terça-feira, 27 de julho de 2010

Sorvete.


Em uma segunda, entre 8 e 9 da manhã, depois de muitos meses uma pedra bateu minha janela. Não ouvi claro, estava dormindo como uma criança após um fim de semana agitado. Outra pedra de encontro a janela, e outra vez, até que na quarta vez acordei com um barulho estranho, e vi a quinta pedra bater a janela. Me assustei, levantei com a regata rosa e shorts azul bebê que usava para dormir aquela noite, e lhe vi. Pedras na janela, era o nosso código para você avisar que havia chegado e estava a me esperar. Eu saia no portão e lhe encontrava. Mas a última vez que isso tinha acontecido fazia muitos meses, e eu nem lembrara mais desse código idiota de menina apaixonada.
Abri minha janela, e perguntei o que fazia ali, ele disse que queria conversar urgente, que estava ali a madrugada inteira só esperando meus pais saírem para trabalhar, e ai sim me acordar. Disse que só colocaria uma calça e desceria e fechei a janela. Afinal, meu namorado jamais iria gostar de saber, que meu ex aparecera em minha janela 9hrs da manhã e lhe recebi de shorts.
Vesti uma calça e desci. No jardim, cheguei perto dele, lhe abracei, perguntei como estava, e coisas educadas que pessoas que não se vêm a meses perguntam. Disse que estava bem, e me pediu que fosse com ele até a sorveteria mais próxima, pois a tal conversa precisava ser em um lugar descontraído para o clima não ficar pesado. Achei estranho, mas pedi 30 minutos para tomar um banho, me arrumar. Ele disse que esperaria, e fui fazer o que havia dito.
30 Minutos depois, saímos para a sorveteria. Chegando lá, resolvi desfazer a cara fechada que havia feito, afinal, ele era meu ex namorado, mas não era o bicho papão.
Nós divertimos, tomei sorvete como uma criança, riamos falando das besteiras feitas juntos no passado, até que silêncio reinou entre nós. E resolvi perguntar qual o assunto do que ele queria falar comigo. Ele pediu pra pagarmos os sorvetes é irmos andando. Que ir à sorveteria era apenas uma desculpa para mim perceber que eu ainda poderia me divertir ao lado dele, mesmo depois de tudo. Achei estranho, mas aceitei.
Andando pela rua, ao lado dele, entre 11hrs e 12hrs, ele começou a falar.
Sente minha falta, que sempre fui o amor da sua vida, que nossas separações eram apenas para ele amadurecer e voltar melhor para mim. E que estava disposto a me "recuperar".
Parei, pensei, olhei para ele e perguntei: recuperar o que? Ele se enrolou, e disse que era ME recuperar. Que não viveria sem mim, e que sentia que eu ainda o amava. Cai de risos na rua.
Ele, com rosto desconfiado me olhou, me pediu para ser dele, que eu fingisse que nunca havia ido embora, que estavamos juntos ainda, e curtimos o dia. Como se fosse contos de fadas. Não aceitei claro. Eu sabia que amava meu namorado, e não precisava provar algo à mim que já sabia.
Em fração de 3 segundos, me encostou no muro da rua vazia, segurou minhas mãos ao alto, chegou o rosto perto de mim, olhou em meus olhos e disse Por favor, peço!
Meu coração na hora entrou em conflito com minha cabeça, fiquei confusa e aceitei.
Passamos um dia como nunca havíamos passado, perfeito. Beijos, abraços, carinhos, fotos, desenhos em arvores, mãos dadas e afins. Me sentia ótima, como nunca.
21hrs Da noite, pediu que pra finalizar o dia, dormisse em seu colo, como nunca havia feito. E eu, fui na onda do resto do dia e aceitei. Já que, meu celular desligado o dia inteiro e não havia visto ninguém conhecido, o que custava?
Fui pra casa dele, ele se sentou ao sofá, e eu encostei minha cabeça em seu colo, ele me beijou. E me esquentou de maneira envolvente, e o beijo aumentara, e quando me dei conta, estava deitada com ele no sofá, já passava das 00hrs, e eu havia feito besteira.
00hrs, o dia que ele pediu havia acabado. Levantei de forma que ele não acordasse, peguei minhas coisas, olhei para ele naquele sofá, respirei fundo e fui para casa.
Pensei o caminho inteiro. No dia que havia passado, nos beijos, abraços, nas demonstrações de carinho, pensei no meu namorado, na minha vida, e cheguei na porta de casa.
Assim que passei a primeira porta, dei de cara com meu namorado, dormindo no sofá, com o celular na mão. Olhei bem para ele, meu coração desmanchou, meus olhos encheram de lágrimas. Não tive nem coragem de beija-lo no rosto, e subi pro quarto, como uma criança que foge do bicho papão. No quarto, sentei em minha cama, chorei, chorei, e acabei dormindo.
No outro dia, 6hrs da manhã, acordei péssima, lá estava eu com minha regata rosa e short azul. A felicidade reinou meu ser. Tudo havia sido um sonho, e eu precisava ver meu namorado, já que por conta de um sonho, percebi que ele era tudo para mim!
Desci as escadas correndo, e da escada, avistei meu namorado no sofá, dormindo como no sonho. Emcima da mesa ao lado do sofá um bilhete.
Filha, ontem chegara mal em casa. Te banhei e vesti.
Seu namorado te espera desde as 20hrs da noite de ontem, acorde-o
e tomem café juntos. Suas roupas de ontem estão no meu quarto.
Beijos, mãe.
PS: Quando chegar, vai me contar o que houve ontem!

Aí Deus! Aconteceu. Só me restava queimar minhas roupas com cheiro de traição, nojo, e raiva.
Ao pegar minha calça, caiu um papel. Estava na minha calça, mas eu não me recordava. Abri, e comecei a ler.
Querida.
Você deve estar se perguntando, que besteira fez ontem né?
Não se preocupe. Você não fez nada. Na sorveteria, coloquei algo em seu sorvete,
para que tivesse alucinações, e nada do que você imaginou aconteceu.
E a noite, quando fomos lá pra casa, você já não estava sobre o efeito
e me chamou pelo nome do seu namorado.
Coloquei um filme e dormimos.
Não tive coragem de fazer nada a você, e percebi que você o ama muito,
e que ele te faz feliz de verdade. Pois ele não precisa te dar nada pra
te fazer sorrir e precisar que você o ame, como eu precisei fazer
pra passar ao menos um dia com você.
Estou viajando hoje para outro estado, e garanto não lhe encomodar mais.
Até um dia, se cuide e seja muito feliz!
Te amo.

Um sorriso brilhou meu rosto, enquanto lágrimas desciam. A coisa mais bela que havia feito por mim, teria sido me fazer achar que passamos um dia juntos para que no final eu tenha chegado a conclusão que, não era você que me fazia feliz.
A unica coisa que senti naquele momento, era vontade de beijar meu namorado muito, mas me controlei, tirei o celular de sua mão, rasguei o bilhete e deixei no chão. Deitei ao seu lado, e dormi como uma criança que se sente segura, sem medo de bicho papão.
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É triste saber que na vida, precisamos fazer ou passar por coisas ruins para saber qual é o certo.
Pena que, nem tudo é surreal. E as vezes, acontece.

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